Por: Ricardo Noronha Junior - Policial Militar
É certo que as guardas municipais receberam um grande reforço advindo da
Lei 13.022, dispositivo que podemos chamar de a Lei Mãe das GCM’s. Fardamento
regulamentado, direitos, deveres, campo de atuação, porte de armas,
prerrogativas e o Comando de Carreira, são os principais pontos que podemos
elencar no novo universo que de fato e de direito nasceu em 2014.
Por muito tempo essas instituições de segurança pública municipal foram
“co-mandadas” por pessoas de fora de seus quadros. Em sua maioria, policiais
civis ou militares e apadrinhados políticos incumbiram-se de fazer com que os
gm’s cumprissem seus papeis de vigias de patrimônio público, nada mais que
isso. Deveras desmotivante era essa situação, mas fazer o que se nada tinham
para utilizar como boia de resgate?
Após o ano do nascimento do estatuto geral, essas instituições voltaram
com uma força revigorante e conquistaram o tão sonhado posto de comando de
carreira. Com servidores oriundos de suas próprias fileiras, era a promessa de
que novos tempos estavam por vir e a confiança de que os escolhidos fariam o
melhor por todos.
Porém, os desafios de se comandar uma Guarda Civil Municipal são maiores
do que muitos imaginam. Além de ter que vencer os preconceitos do público
externo, integrantes do executivo municipal, o público interno ainda hoje é uma
barreira a ser vencida. Pois, para eles, no comando se pode e se consegue tudo,
basta uma canetada e todos os problemas e aspirações serão “dizimados”.
É quando o comando não consegue os insumos necessários no tempo desejado
e determinado por seus subordinados que o farol da verdade é aceso. As críticas
aparecem, a desmotivação proposital vira uma constante e a instituição se ver
quase que paralisada por aqueles que devem fazê-la caminhar. Comandar é mandar
com, mandar junto e, um comando sem seus subordinados é tão ineficiente quanto
os subordinados sem comando.
Criar expectativas a curto prazo é o maior erro de qualquer servidor em
segurança pública. As coisas não são tão fáceis como achamos que são, pois, as
barreiras são muitas e o caminho não é pavimentado. O comandante, assim como
seus subordinados, tem que entender que existe tempo para tudo, principalmente
fazer uma gcm caminhar a passos largos. O líder da instituição tem o papel de
diretamente mostrar ao chefe do executivo, que diga-se de passagem quase nada
entende de guarda municipal, que vale a pena institucional e politicamente
investir em na instituição. E essa jamais será uma tarefa fácil.
A diplomacia política e o total domínio sobre o assunto segurança
pública deve ser fator preponderante para o comando gcm e também para os demais
guardas municipais. Entender o melhor caminho para entrar na “cabeça” de um
prefeito é uma tarefa deveras importante. Saber definir o perfil do chefe do
executivo é ponto impar na questão, pois assim, saberá inclusive detectar
quando “dar meia volta e avançar”, entregar o cargo, esteja sendo a melhor
opção. Não por incompetência do comando gcm, mas sim por infelizmente ter que
passar quatro anos sendo gerido por alguém que literalmente não vela a pena.
Quando os subordinados também conseguirem entender que criar
expectativas em pessoas é um erro, saberão compreender que seu chefe direto,
não tem todo o poder que acham que tem. Todos somos subordinados há algo ou há
alguém, não seria diferente com as gcm’s. As vezes o alicerce de uma casa não é
só comprometido por erro de quem o fez, mas também por conta do material de
péssima qualidade.
Vale a pena lembrar o grande estrategista Sun Tzu, “Os que
ignoram as condições geográficas - montanhas e florestas - desfiladeiros
perigosos, pântanos e lamaçais - não podem conduzir a marcha de um exército”. E até podemos complementar dizendo, que “cabe o mesmo ensinamento para aqueles que marcham junto ao condutor
da marcha”.
Ou se unem, ou preparem-se para as infinitas
derrotas.
Ricardo Noronha Junior - Policial Militar
(Especialista em: Municipalização de Trânsito, Segurança Pública Municipal, Ex-Superintendente de Trânsito e Responsável pelo comando da GCM de Santa Luz/Ba. de 2013 à 2015.)
(Especialista em: Municipalização de Trânsito, Segurança Pública Municipal, Ex-Superintendente de Trânsito e Responsável pelo comando da GCM de Santa Luz/Ba. de 2013 à 2015.)